domingo, 22 de abril de 2007

"Durante a rápida estação em que a mulher permanece em flor, os caracteres da sua beleza servem-lhe admiravelmente bem para a dissiculação à qual a sua fraqueza natural e as leis sociais a condenam. Sob o rico colorido do seu fresco rosto, sob o fogo das suas feições tão delicadas, com tantas linhas curvas ou retas, mas puras e perfeitamente determinadas, todas as suas comoções podem permanecer secretas. O rubor então nada revela, aumentando ainda cores já tão vivas. Todos os focos interiores concordam tão bem com a luz desses olhos brilantes de vida, que a passageira chama de um sofrimento aparece como um encanto a mais. Por isso, nada há mais discreto do que um rosto juvenil, porque também não há nada mais imóvel.

"A fisionomia de uma jovem tem a serenidade, o polido, a frescura da superfície de um lago. A das mulheres só se revela aos trinta anos. Até essa idae, o pintor só lhes acha no rosto róseo e branco sorrisos e expressões que repetem um mesmo penamento, pensamento de mcidade e de amor, pensamento uniforme e sem profundidade. Mas, na velhice, tudo na mulher fala. As paixões incrustaram-se-lhe no rosto: foi amante, esposa e mãe. As mais violentas expressões de alegria e de dor acabaram-lhe por alterar, torturar o rosto, formando aí mil rugas, sublime de horror, bela de melancolia, ou magnífica de serenidade. Se então ver todos os traços das torrentes qeu o produziram. Uma cabeça assusta ao ver a destruição de todas as idéias de elegância a que está habituado, nem aos artistas vulgares qeu nada descobrem aí. Mas pertence aos verdadeiros poetas, aqueles que possuem o sentimento de uma beleza independente de todas as convenções sobre que repousam tantos preconceitos com respeito à arte e à formosura."

- Balzac, em A mulher de trinta anos.





À minha avó e à minha mãe, a quem o tempo muito ensinou o que, com disposição e bondade, dedicaram grande parte de suas vidas a me repassar e me aflorar à compreensão, o fazendo mesmo hoje à flor da minha juventude.

Um comentário:

Anônimo disse...

dissimulação*