quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

As duas de mim

Eu sou as duas de mim.
Eu sou quem ama, e também quem deseja
Sou cara de anjo, e tigre nos olhos
Sorrio sem-graça, gracejo sem dó
Eu sou mãos quentes, toques gélidos.
Eu o conquisto, eu o seduzo
Eu o desaponto e desiludo
São águas passadas, e eu ouso à vingança
Eu me magôo, eu mudo o dia
O dia muda e eu mudo a mim.
Eu sou as duas de mim
Eu sou coração, sou mente fecunda
Infiro à verdade, dissimulo nos cálculos
Creio veemente, mas me faço pela dúvida
Eu duvido do amor, e creio no ódio
Eu creio no amor, e creio no ódio
Eu duvido do amor e do ódio, e creio no poder.
Não sou quem se vê, eu sou o que se sente
Sou eu quem o vê, quem o julga e opina
Sempre inocente, e sempre culpada
Eu sou ambos, o ator e o crítico
Perene a críticas, desvalido a elogios
Eu sou transição, e assim fecho meu ciclo.
Não sou uma, eu sou duas
Talvez mais, infindos arranjos de mim
Talvez eu me seja enquanto sonho,
Ou talvez só o faça quando acordo.
Eu sou corpo e sou alma
Só não sou santa, nem sou puta
Eu sou minha voz, me escuto sozinha
Eu sou meu espelho, imagem do avesso
Eu sou seu escravo, e senhor de mim
Eu sirvo à tarde, mas a noite é minha.

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